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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Pausa para uma atriz dramática

Mergulhamos em águas desconhecidas, passamos muito tempo nos debatendo até podermos nadar com tranquilidade. Mas chega um momento que percebemos que o oceano é maior do que imaginamos e o momento pede para ir mais fundo. Essa hora chega pra mim. Imaginar minha vida sem o teatro é algo que não passava pela minha cabeça há tempos, e nesses últimos três anos era algo impensável, afinal trabalhando com o Satyros fiz nada menos que cinco espetáculos. Um atrás do outro, isso quando eu não saia de uma peça e fazia outras três em seguida. Mesmo com essa maratona, apesar de problemas que sempre existem quando se trata de relações humanas, era extremamente prazeroso vivenciar todo aquele universo que todos os elencos construíam a cada nova sessão. Um pouco de mim crescia e se transformava em uma atriz e ser humano diferente. Infelizmente, minha vida não é agraciada pela oportunidade de viver integralmente para o teatro. Há alguns anos atras pude ter essa oportunidade de me entregar a ensaios, aulas e espetáculos. Uma experiência maravilhosa, que logo depois teve que ser interrompida pelas obrigações do cotidiano e as cobranças que cercam a todos com a minha idade. Neste momento passo novamente pelo conflito de me distanciar da minha verdadeira vocação. Agora não por causa de um emprego, mas pelos estudos, chega um momento que a necessidade de obter mais conhecimento urge violentamente, e tal desejo sempre esteve presente, entretanto gostaria que o mesmo caminhasse junto com o teatro. Desde a minha aprovação na Universidade, me pego pensando sobre esta digamos "pausa dramática"; e em todas as vezes a atriz que vos escreve traz um certo tom melodramático para o tema. Certos momentos tenho a sensação de estar traindo aquilo que mais amo num tom bem Rodriguiano ou como em uma tragédia grega,apunhalando aquele que me acompanha desde os nove anos. Mas será que há a necessidade de encarar dessa forma? Esse final de semana pude ter um outro ponto de vista. Saindo com alguns amigos do Núcleo do Satyros, contei (com um tom dramático) para eles essa minha aflição. Tive uma resposta aparentemente óbvia, mas que esta cabeça não havia pensado antes:
Aproveite esses dois anos para ser uma observadora
Não foi exatamente com essas palavras (cabeça de pisciano mode on) mas me fez refletir sobre a importância de observar, de sair da arena e ser espectadora, (re)conhecer linguagens, sentir, receber e se entregar a uma peça. Há quanto tempo eu não faço isso! Ser o ator observador, aquele que eu tanto ouvia nas aulas de teatro, que assistia o jogo dos outros e refletia sobre o que tinha visto! Que saudade! Ouvir tal conselho me deu um certo alento. E me fez lembrar de um momento muito triste da minha vida que eu quase desisti de fazer teatro pois me fizeram acreditar que de nada valia meu trabalho e meu esforço, que aquilo que eu fazia era uma mentira, quase me entreguei a isso, Felizmente, reverti esse jogo e em três anos, vejo que construí belos castelos e que a atriz que vos escreve entende que a pausa a ser feita não é por inteiro, é estratégica e tem seu momento para terminar. Impossível desligar-se por inteiro de algo que se ama de verdade. Na hora certa e no momento certo tudo volta para seu devido lugar. Nos encontramos na platéia (ou quem sabe no palco).
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